ONDE ESTÃO ELAS?

Panorama do cinema alagoano: quem são e o que colocam em tela as cineastas do estado

Por Isabella Lucena e Pedro Igor

Milhares de vozes femininas foram caladas por séculos, seja na política, no cinema ou na literatura. Aos poucos, as mulheres vêm conquistando o espaço renegado, tomando seu lugar e tendo a oportunidade de contar suas próprias histórias. Mas ainda há muito a alcançar.

O Oscar por exemplo, em seus 91 anos de existência, consagrado como maior prêmio do cinema, só indicou nas categorias de direção, até hoje, 5 mulheres. Nas outras categorias do prêmio, o reconhecimento feminino ainda é muito baixo. Uma pesquisa realizada pela diretora executiva do Centro de Estudos da Mulher na Televisão e Audiovisual e professora da Universidade de San Diego, Martha Lauzen, apontou que mulheres recebem menos de 20% das indicações à melhor edição, roteiro e fotografia. 

Em termos de Brasil, as notícias também não são muito felizes. Numa pesquisa da Agência Nacional de Cinema, Ancine, publicada em 2018, os dados confirmam o que já era esperado: mulheres ainda são minoria no audiovisual brasileiro, principalmente nos cargos de direção e fotografia, representando 17% e 8% respectivamente. Fazendo o recorte de raça, a situação se torna ainda pior, mulheres negras ocuparam 0% dos cargos de direção no período de tempo em que a pesquisa foi realizada.

Todos esses dados refletem em tela, nas histórias que são contadas, como lembrou a pesquisadora Lauzen, em 2013, “se são homens que dirigem a vasta maioria dos nossos filmes, a maioria desses filmes continuará sendo sobre homens e realizados a partir de um ponto de vista masculino”.

ASPECTOS HISTÓRICOS

A produção cinematográfica alagoana começa em um barco. Em 1921 o italiano radicado no Brasil, Guilherme Rogato, atracava em terras maceioenses pela segunda vez. Ele, que já era fotógrafo, havia feito uma exposição de fotos em Maceió dois anos antes. Ao voltar, Rogato produziu o que viriam a ser os primeiros filmes alagoanos. Eram curta-metragens, em um deles Rogato havia filmado o carnaval daquele ano, o outro era composto por filmagens da inauguração de uma ponte na cidade de Quebrangulo, município que fica a 115km da capital. O filme ficou conhecido como “A Ponte de Cimento em Vitória”.

Três anos depois, o cineasta pernambucano Edson Chagas chegou em Maceió. Chagas já havia produzido o filme Aitaré da Praia, de 1926, considerado um filme importante do cinema nacional. O cineasta dirigiu o filme Alagoas Jornal nº2, um curta-metragem documental.

Elinaldo Barros, escritor do livro “Panorama do Cinema Alagoano”,  detalha a trajetória da produção cinematográfica alagoana, citando grandes nomes que fizeram história, como o de Celso Brandão, dono da maior filmografia no estado. O livro também aponta cada um dos vencedores do Festival de Cinema de Penedo, desde sua primeira edição, em 1975, até a oitava e última, em 1986.

Mas quando se tratam de mulheres, o assunto se torna escasso. Encontramos as mulheres em um dicionário filmográfico no final do livro. O filme mais antigo encontrado é “A Prece do Mendigo”, um documentário de curta metragem dirigido por Ana Severina Conceição, em 1979, sobre o qual não se tem informação, nem mesmo um verbete cadastrado no acervo da Cinemateca Brasileira. O mesmo ocorre com o documentário de 1983, “Sem açúcar e sem afeto”, de Eliana Monteiro. Também não há diretoras entre os concorrentes e vencedores do festival de Penedo em nenhuma edição.

A partir de 2006, no entanto, o livro mostra um aumento na produção de filmes feitos por mulheres. Dos 17 filmes listados no livro, 13 deles foram lançados deste ano em diante. Entre eles, “Rabequiê”, documentário sobre a vida de Nelson da Rabeca, dirigido por Fernanda Reznik e toda a filmografia de Larissa Lisboa até o momento da publicação desta obra.

Muito aconteceu desde então. Basta observar a Mostra Sururu de Cinema, a presença massiva de mulheres concorrendo como diretoras ou colaboradoras. Em 2009 ocorreu a primeira edição, ainda não competitiva. Dos 28 filmes apresentados naquela noite, 8 deles foram dirigidos por mulheres, como “Contos de Película”, de Alice Jardim, que naquele mesmo ano apresentou também o filme “A Paisagem e o Movimento”.

Em 2011, segunda edição da mostra, 4 filmes são de mulheres. O evento, que agora já premiava em diversas categorias, premiou Regina Barbosa e Hermano Figueiredo com o melhor roteiro pelo filme “Um Vestido Para Lia e Cia. do Chapéu”, filme de Larissa Lisboa, que ganhou como melhor montagem. A situação vem se repetindo desde então, todos os anos cada vez mais mulheres expõem seus filmes. Em 2012 foram cinco, de 2013 a 2015 foram seis filmes, em 2016 foram nove filmes, a maioria deles em direção coletiva, com exceção de Minha Palavra é a Cidade, de Taynara Pretto e Juremeiro de Xangô, de Arilene de Castro.

Em 2017, cinco filmes de mulheres, e em 2018, edição mais recente do evento, sete filmes com diretoras mulheres participaram da mostra, com direito a prêmio de Melhor filme por júri popular e melhor contribuição técnica para Parteiras, de Arilene de Castro e menção honrosa para Coração Sem Freio, de Cris da Silva e Hallana Lamenha.

CENÁRIO ATUAL

Em Alagoas, o cinema vive seu momento de efervescência. O cenário audiovisual vem crescendo bastante nos últimos 10 anos, graças aos editais de fomento a produção, da articulação de grupos que têm se juntado para realizar cinema mesmo sem grandes recursos. Outros responsáveis por esse crescimento é a instituição do Fórum Setorial do Audiovisual Alagoano e das mostras de cinema que surgiram e ressurgiram, a Mostra Sururu de Cinema Alagoano, que desde 2009 desempenha o papel de dar espaço aos realizadores locais, e o Circuito Penedo de Cinema, reinserido no estado em 2016 e proporcionando a Alagoas uma oportunidade de reunir amantes e realizadores de cinema brasileiro.


Larissa Lisboa, jornalista, cineasta e fundadora do Alagoar. Foto: Acervo pessoal.

Segundo Larissa Lisboa, jornalista,  analista de cultura do Sesc Alagoas e realizadora do audiovisual no estado, com mais de 10 filmes lançados, divididos principalmente entre filmes experimentais e documentários, acompanhar a Mostra Sururu de Cinema desde sua primeira edição a fez perceber a resistência dos realizadores alagoanos, que mesmo sem recursos têm buscado formas de driblar essas situações. “A renovação da vontade de fazer cinema está presente em Maceió, Arapiraca, Teotônio Vilela, Palmeira dos Índios, e em outras cidades que ainda não tivemos conhecimento, mas que na minha análise têm potencial para estar dentro desse cenário de produção local. Precisamos de investimentos na descentralização da informação, dos recursos, da pesquisa. E de que seja investido num trabalho sistemático para difusão do conhecimento, dos filmes, das formações, das oportunidades e do reconhecimento”, comenta.

Trabalhando como analista de audiovisual do Sesc Alagoas desde maio de 2012, ela também percebeu, a partir do contato com o público através das exibições de filmes e das ações formativas, o interesse deles em conhecer mais sobre cinema. Esse interesse tem incentivado a continuidade das ações realizadas pelo Sesc sobre a linguagem audiovisual, como o Ateliê Sesc de Cinema. Ainda assim, ela percebe a grande carência de cursos mais completos, como um curso de graduação na área, sem previsão de existir no estado.

VOZES FEMININAS

Nesse espaço de crescimento do cinema alagoano, as mulheres vem se inserindo e colocando suas próprias vozes em evidência, desempenhando papéis vitais. A própria Larissa Lisboa realiza um trabalho de grande importância para o setor, o site Alagoar. O site é  o maior catálogo online de produção audiovisual alagoana, que reúne uma infinidade de produções, principalmente dos novos realizadores. De acordo com a jornalista, ele é resultado da pesquisa iniciada por ela em 2007, quando ela elaborou um catálogo da produção audiovisual alagoana em seu Trabalho de Conclusão de Curso da graduação de Jornalismo da Universidade Federal de Alagoas. No ano de 2015, Amanda Duarte abraçou essa pesquisa e juntas elas lançaram o site.

Para a jornalista, “a proposta do site é refletir, registrar, preservar a memória, informação e produção do audiovisual alagoano, sua importância pode ser dimensionada pelo valor que a reunião dessas informações alcança, somado ao impacto de ter um espaço que oferece conteúdo e incentiva a escrita, registro e compartilhamento de informações. Não tenho dúvidas que as pessoas recebem o Alagoar com carinho e generosidade, é uma alegria ver o site/projeto sendo utilizado como referência, sendo mencionado”.

Além das funções já citadas, Larissa Lisboa também é realizadora, atuando como diretora, operadora de câmera, produtora, assistente de produção e editora. Seu primeiro filme foi “Efernescer”, documentário realizado em Fernão Velho, sobre o músico Cícero Simão.

Sem uma graduação específica de cinema em Alagoas, o curso de Comunicação Social, com habilitação em Relações Públicas e Jornalismo da UFAL rendeu frutos para o audiovisual alagoano. Nas disciplinas ministradas pelo professor e cineasta Almir Guilhermino surgiu toda uma nova safra de novos cineastas. Foi nesse espaço, que a paixão por cinema de muitas mulheres se desenvolveu. Larissa Lisboa, Karina Liliane e Maysa Reis são nomes que saíram da universidade e foram para as telas.

Fruto do projeto de extensão Da Lauda ao Filme, realizado pelo professor Almir, Maysa Reis se tornou realizadora e pesquisadora de cinema. Na época do projeto, ela já tinha um amor pelo cinema, mas não se imaginava nas posições que ocupa atualmente, “eu nunca tinha me imaginado fazendo cinema em Alagoas, eu nem sabia que existia cinema em Alagoas. E o cinema mudou a minha vida basicamente, mudou todo o meu destino”, conta.


Diretora de Menina, curta realizado em parceria com Amanda Duarte. Foto: Acervo Pessoal.

No projeto, ela aprendeu todas as etapas de produção de filmes e junto com Amanda Duarte, realizou o seu primeiro filme, “Menina”. A ideia da produção foi baseada numa dissertação de mestrado de um professor da USP, que se vestiu de gari durante um ano na porta da faculdade que ele dava aula e ninguém o reconheceu. Essa era a questão central do curta, contar a invisibilidade dos profissionais de assistência, a partir do olhar de uma faxineira de uma universidade, que passa invisível todos os dias pelas pessoas que frequentam aquele ambiente. É um filme simples, mas sensível e tocante, que reflete quem foram as realizadoras: duas mulheres.

O curta foi um sucesso, exibido em mais de 10 festivais por todo o Brasil e fora do país, no México. “O prêmio de melhor roteiro (na IV Mostra Sururu de Cinema Alagoano) foi a certeza que eu precisava pra não abandonar esse caminho, que já era um sonho mas que era longe da realidade”, explica Maysa.


A protagonista de Menina. Foto: Itawi Alburquerque.

Atualmente, Maysa faz mestrado em cinema e pretende seguir para o doutorado e até dar aulas de cinema em Alagoas. “Os homens em si estão preocupados com outras coisas, até porque eles não têm propriedade pra falar da gente, da nossa história. Antes eu entrei no mestrado para pesquisar as personagens mulheres do cinema nordestino brasileiro feito por homens, os diretores homens, Claúdio Assis, Kleber Mendonça. E aí no meio do processo do mestrado eu percebi que aquela não era minha função, sabe? Tinha muita gente falando do Kleber Mendonça, tinha muita gente falando do Cláudio Assis e quase ninguém falando das diretoras, quase ninguém, na verdade no meu programa de mestrado não tem ninguém que pesquise as diretoras mulheres, só diretores homens. E aí eu resolvi mudar o meu mestrado’’.

Hoje em dia, ela pesquisa sobre as diretoras de cinema em Alagoas e pretende catalogar essas mulheres, saber quem elas são e do que os filmes delas falam.

PERCALÇOS

Muito já foi conquistado, mas os desafios de ocupar espaços no audiovisual brasileiro e alagoano ainda são grandes. A falta de oportunidade e de abertura das pessoas para que as mulheres trabalhem em seus filmes e a falta de credibilidade das profissionais femininas, junto à influência de todo o machismo estrutural ainda são problemas constantes para as realizadoras do audiovisual.

Como explica Maysa, a própria estrutura do cinema é muito hierarquizada, o que prejudica ainda mais as mulheres, que quando conseguem um espaço são sempre colocadas em funções assistenciais, como produção e assistente de produção.

Larissa Lisboa complementa “é avassalador olhar para o cinema e perceber que as referências e os discursos ainda são prioritariamente masculinos, heteronormativos e brancos, assim como na sociedade e na cultura. Amadurecer a compreensão das construções políticas e culturais, para combater o preconceito, a violência e a invisibilização da mulher, dos negros, indígenas, LGBTQI+, perpassa por quem está atrás e na frente das câmeras, por quem escreve e sobre quem, o que escreve, quem representa e é representado/a”.

De acordo com ela, a pouca presença das mulheres é sustentada pelo argumento de que a experiência profissional delas ainda é escassa. No entanto, a maior parte dos profissionais alagoanos têm sua formação profissional conquistada na prática, ao ter tido oportunidade de estar junto a outros profissionais. Tão importante quanto falar sobre a necessidade de mais oportunidades para mulheres no audiovisual local, é proporcionar oportunidades e formação para elas.

Ela ainda comenta que o edital de incentivo à Produção Audiovisual em Alagoas (2018/2019), das 21 propostas premiadas, sete contam com mulheres assinando a proposta, no entanto, apenas dois desses filmes tem diretoras. E por mais que hoje tenhamos mais mulheres atuando, ainda se conta nos dedos quantas equipes têm mulheres em cargos de chefia, como direção, produção, fotografia, arte, montagem.

SORORIDADE


Frame do curta Delas, produzido como TCC de Karina.

A prova de que a articulação entre mulheres é uma das chaves para um maior presença feminina no audiovisual é o curta “Delas”, de Karina Liliane. “Delas” foi realizado por ela como o seu Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo, contando com a colaboração de várias mulheres no processo. O filme também ganhou espaço pelo Brasil, participando da VIII Mostra Sururu de Cinema Alagoano em 2017 e da III Mostra Itinerante Livre de Cinema: “Milc – Por Outras Fortalezas (Fortaleza – CE) e do 6° Festcine –  Festival de Cinema – Curta Pinhais (Pinhais – PR).

Para Karina, a força e sororidade femininas como forma de vencer e lutar contra a falta de espaços para as mulheres. “Acho que uma maneira muito importante é encontrar seus pares, ter uma rede de apoio. Quando você conhece outras mulheres que executam a mesma função que você ou outra, que estão no mercado a mais tempo que você e troca com elas você se sente muito mais fortalecida pra seguir em frente. Além de gerar uma rede de contatos onde todas ganham”, finaliza.

Ela comenta que o processo de realização do filme foi um processo onde não houve tempo para maturação e amadurecimento da ideia, tudo foi acontecendo durante todas as etapas de produção. “Tive três dias para construir o roteiro, que na verdade foi substituído por um argumento, proposta de abordagem e personagens, e começar a pré-produção. No início eu não me sentia segura nem confortável para estar na posição de diretora, mas isso foi se transformando ao longo de todo processo. Foi um momento de bastante aprendizado”.

O “Delas” coloca em tela as reflexões de dez mulheres que trabalham com o audiovisual em Alagoas. Nele, elas contam suas trajetórias, experiências e desafios nesse meio. Para Karina, a vontade de abordar o tema veio de uma inquietação pessoal, “porque mesmo eu tendo conhecimento de várias mulheres que atuam nas diversas áreas do audiovisual no estado quando eu pensava e falava sobre, os primeiros nomes e minhas referências eram sempre homens? Dar vez e voz a algumas dessas mulheres em um filme foi a forma que eu encontrei de estampar que elas existem e tem muito a mostrar, fazer com que elas também se vissem e conhecessem. Quebrar com o ciclo em que eu mesma estava inserida”.

ENTRE A ARQUITETURA E O CINEMA


Alice Jardim, diretora de uma lista extensa de filmes. Foto: Nivaldo Vasconcelos.

Quando se fala em produção cinematográfica feminina em Alagoas, é impossível não citar o nome de Alice Jardim. A alagoana, que hoje reside em São Paulo, se formou em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de Alagoas e se especializou em Cinema, Vídeo e Fotografia pela Universidade Anhembi Morumbi. A cineasta possui uma filmografia extensa, atuando não só como diretora em seus projetos, como colaborando em diversas outras funções em filmes que fora convidada a participar. De direção à roteiro e montagem, Alice Jardim coleciona alguns prêmios na sua carreira, como o 1º lugar na Mostra Competitiva Nacional do Festival Arte.Mov 2012, em Belo Horizonte, pelo filme Todavia. Seu filme Entre Céus, de 2014 foi premiado com Melhor Montagem, Melhor Documentário e Melhor Fotografia na Mostra Sururu de Cinema de 2015, além de ter levado o prêmio Cine Memória de Melhor Documentário do 4º Curta Brasília. Por esses motivos, entrevistamos Alice Jardim, onde falamos sobre a sua carreira como cineasta sendo mulher e alagoana.

CIRCULADOR – Como você começou a realizar filmes?

ALICE JARDIM – Eu comecei a fazer filmes na faculdade ainda. Eu conheci dentro da faculdade de arquitetura a galera que editava vídeos de brincadeira e eu me encantei com isso e comecei a pesquisar quais programas faziam aquilo. Acabou que eu me encantei por essa coisa do vídeo, eu já fotografava, foi também outra coisa que a faculdade de arquitetura me trouxe, essa paixão por fotografia. Eu fiz parte de um grupo de pesquisa, dentro da faculdade ainda, que trabalhava a história da cidade, tipo, pesquisava sobre a história da cidade, evolução urbana, e aí dentro desse grupo eu primeiro entrei como pesquisadora e depois eu entendi que o que eu gostava mais era da parte visual. Aí eu comecei a desenvolver essa parte criativa de fotografia dentro do grupo, e quando eu fiz o meu tcc eu já tinha aprendido essa coisa de vídeo e eu pensei em juntar as duas coisas, aí foi o primeiro filme que eu fiz, que se chama A Paisagem e o  Movimento, em 2007.

Além de dirigir, você também exerce outras funções?

Eu comecei nessa coisa multi né, dentro do grupo fazendo fotografia e o meu tcc que foi um vídeo e comecei a entrar em contato com isso. Eu fiquei bem naquela coisa da videomaker sabe, que pega um pouco de tudo, acho que única coisa que eu não me envolvi tanto foi som, captura de som e tal. Mas hoje em dia eu trabalho mais dentro da direção, especialmente de documentário, montagem, edição e direção de fotografia, outra vertente que eu sigo também é a divulgação.

Alguns dos seus filmes falam muito sobre cidades e seus dilemas. Por que você escolheu retratar tanto essa temática dos mais variados jeitos? Sua formação em arquitetura e urbanismo influenciou nisso?

Sem dúvida, a minha formação influenciou total na minha visão, na minha construção dentro do audiovisual. Inclusive, quando eu me formei, eu percebi que estava indo mais para esse caminho da comunicação, me apaixonei por cinema. Eu comecei a participar de cineclube, conheci a Larissa Lisboa dentro do SESC, conheci as meninas do Tela Tudo, mas até eu me envolver com tudo isso sempre tinha uma crise existencial, até de falar que eu era arquiteta. Eu descobri que era possível ser assim, ser as duas coisas, eu descobri que a arquitetura me deu essa base, não só estética, mas de conteúdo também.

Entre os seus filmes, qual é o seu favorito? Por quê?

Que pergunta capciosa, que coisa mais injusta é ter que pensar qual é o meu filme favorito. Não quero dizer que é o favorito, mas o último filme que eu fiz antes de sair de Maceió é o Entre Céus, de 2014, ele tem um quê especial pra mim. Quando eu comecei a fazer cinema eu comecei com essa coisa do cinema experimental, e aí eu voltei para o grupo de pesquisa que eu já trabalhava na Ufal e a gente fazia alguns trabalhos, fiz alguns documentários etnográficos, ou era uma viagem experimental, e aí eu vejo que no Entre Céus foi o filme que eu consegui chegar mais num meio termo. Eu acho que é uma junção de um pouquinho de tudo, aí eu tenho um carinho especial por ele. Foi o último trabalho que eu fiz com o grupo antes de sair de Maceió, foi o último filme que eu fiz daí. Eu dirigi, fotografei e montei.

Quais são os principais desafios de ser uma mulher fazendo cinema, na sua opinião?

Eu já conversei sobre isso com a Larissa (Lisboa), e até no filme Delas, da Karine. Eu comentei sobre isso que o engraçado é que eu meio que fui fazendo sem me questionar muito o que eu tava fazendo, eu acho, tinha um pouco dessa característica de fazer muita coisa experimental no começo, como brincadeira, sem levar como uma profissão, até que foi se transformando. Talvez eu enxergue mais hoje isso por conta da profissão, mas isso nunca foi uma coisa que me impediu de pensar “eu acho que tive uma sorte de conhecer mulheres incríveis, como a Larissa Lisboa, as meninas do Tela Tudo. Eu fui conhecendo mulheres tão poderosas de ideias que a gente ia se juntando e fazendo as coisas e a gente não parava muito para pensar nesse espaço que a gente tava conquistando. Acho que esse desafio, no começo, até pareceu ser mais fácil porque eu não sabia que era um desafio. Hoje quando eu vejo as lutas e as discussões que estão rolando, né, de aumentar a força da questão do empoderamento, eu vejo o quanto é importante valorizar isso. É muito legal saber que esse movimento cresce cada vez mais e que tem cada vez mais mulheres fazendo.